Ao almoço
Pouco depois de entrar
indicaram-lhes a mesa, entre grande confusão de pernas, gente, cadeiras, mais
pernas movimentando-se, cotoveladas, pequenos encontrões. Já não se lembrava de
quem lhe indicara aquele restaurante, mas, fosse quem fosse, tinha-lhe dito
para não levar crianças. Passaram uns sujeitos com uns fardos de palha, para a
cerveja e o whisky, disseram, e mais uns outros com umas panelas de lúpulo. De
vez em quando corriam uns animais, coelhos, galinhas, bezerros, sempre
perseguidos a alta velocidade por cozinheiros de facas e machados na mão.
Vinham atrás uns tipos com uns alguidares, provavelmente para amparar o sangue.
Foi aqui que começou a história do porco...
Alguém se lembrou de pedir rojões. De repente apareceu um porco a fugir por
entre as mesas, com o cozinheiro de grande facalhão atrás. Zás! Espetou-lhe
certeiro entre a quarta e a quinta costela, mas parece que devia ter sido entre
a sexta e a quinta. Vai daí o porco não tombou redondo à primeira, fugiu cheio
de sangue. O tipo do alguidar ia fazendo pontaria inutilmente... “Porra, vê lá
se acertas no gajo!” O cozinheiro espetou outra vez. O reco tombou redondo e o
tipo do alguidar foi aviando o povo que tinha pedido sarrabulho. De qualquer
modo devia ser sarrabulho instantâneo, porque aquilo não dava tempo para
grandes preparos. Penduraram o porco, de cabeça para baixo, por pouco tempo,
porque alguém pediu a cabeça, e de repente já era difícil dizer em que posição
estava.
A coisa ainda demorou,
porque aviaram primeiro os clientes das febras e das costeletas, e depois os do
pernil, e finalmente os dos rojões. Não se pense que isto foi um processo
pacifico. Além de haver muita gente a reclamar, houve também quem se enojasse e
se tenha vertido abundantemente pelas tripas superiores e inferiores. Andava
sempre gente a correr de um lado para o outro com saquinhos de plástico, mas
depressa apareceram com uns baldes porque não davam vazão. Havia também quem
comesse desalmadamente, com as beiças escorridas de molho e baba, porque aquilo
abria-lhes muito o apetite. Esta gente fazia questão de comer neste restaurante
cuja especialidade eram os túbaros de qualquer quadrúpede desgraçado que ali
aparecesse.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home